TÓPICO ESPECIAL: Escatologia – Por que os Cristãos Têm Tantas Interpretações Dogmáticas de Apocalipse
(Isto é tirado do Comentário Sobre Apocalipse do Dr Utley, vol. 12,
1998).
Através dos anos de meu estudo da escatologia, tenho aprendido que a
maioria dos cristãos não tem ou querem uma cronologia do tempo do
fim desenvolvida, sistematizada. Há alguns cristãos que focam ou se
especializam nesta área do cristianismo por razões teológicas,
psicolóficas ou denominações. Esses cristãos parecem tornar-se
obcecados com como tudo terminará e de alguma maneira perdem a
urgência do evangelho! Os crentes não podem afetar a pauta
escatológica (tempo do fim) de Deus, mas eles podem participar do
mandato do evangelho (cf. Mt 28.19,20; Lucas 24.47; Atos 1.8). A
maioria dos crentes afirma uma Segunda Vinda de Cristo e uma
culminação do tempo do fim das promessas de Deus. Os problemas
interpretativos que surgem de como compreender essa culminação
temporal vem de várias fontes:
1. A tensão entre modelos proféticos da Antiga Aliança e os
modelos apostólicos da Nova Aliança
2. A tensão entre o monoteísmo da Bíblia (um Deus para Todos) e a
eleição de Israel (um povo especial)
3. A tensão entre o aspecto condicional das alianças e promessas
bíblicas (“se…então”) e a fidelidade incondicional de Deus
à redenção da humanidade caída
4. A tensão entre os gêneros literários do Oriente Próximo e os
modelos literários ocidentais modernos
5. A tensão entre o Reino de Deus enquanto presente, contudo futuro.
6. A tensão entre a crença no retorno iminente de Cristo e a crença
de que alguns eventos devem acontecer primeiro.
Discutamos essas tensões uma por vez.
PRIMEIRA TENSÃO (categorias raciais, nacionais e geográficas do AT vs. todos os
crentes por todo o mundo)
Os profetas do AT predizem uma restauração de um reino judeu na
Palestina centrado em Jerusalém onde todas as nações da terra se
reúnem para louvar e servir um governante davídico, mas Jesus nem
os Apóstolos do NT nunca focam nessa pauta. O AT não é inspirado
(cf. Mt 5.17-19)? Os autores do NT omitiram eventos cruciais do tempo
do fim?
Há várias fontes de informação sobre o fim do mundo:
1. profetas do AT (Isaías, Miquéias, Malaquias)
2. escritores apocalípticos do AT (cf. Ez 37-39; Dn 7-12; Zc)
3. escritores apocalípticos judeus intertestamentários,
não-canônicos (como I Enoque, que é aludido em Judas)
4. Jesus mesmo (cf. Mt 24; Marcos 13; Lucas 21)
5. os escritos de Paulo (cf. I Coríntios 15; II Co 5; I
Tessalonicenses 4-5; II Tessalonicenses 2)
6. os escritos de João (I João e Apocalipse)
Todos esses ensinam claramente uma pauta de tempo do fim (eventos,
cronologia, pessoas)? Se não, por quê? Eles todos não são
inspirados (exceto os escritos intertestamentários judaicos)?
O Espírito revelou verdades para os escritores do AT em termos e categorias que eles
poderiam compreender. Contudo, através de revelação progressiva o Espírito expandiu esses conceitos escatológicos
do AT para um escopo universal (“o mistério de Cristo”, Ef 2.11-3.13. Aqui estão alguns exemplos relevantes:
1. A cidade de Jerusalém no AT é usada como uma metáfora do povo
de Deus (Sião), mas é projetada no NT como um termo expressando a
aceitação de Deus de todos os seres humanos arrependidos, crentes
(a nova Jerusalém de Apocalipse 21-22). A expansão teológica de
uma cidade física, literal no novo povo de Deus (judeus e gentios
crentes) é prefigurada na promessa de Deus para redimir a humanidade
caída em Gn 3.15, antes que houvesse ainda quaisquer judeus ou uma
cidade capital judaica. Mesmo a chamada de Abraão (cf. Gn 12.2-3)
envolvia os gentios (cf. Gn 12.3; Êx 19.5).
2. No AT os inimigos do povo de Deus são nações dos arredores do
Antigo Oriente Próximo, mas no NT eles são expandidos a todas as
pessoas descrentes, anti-Deus e satanicamente inspiradas. A batalha
moveu-se de um conflito geográfico, regional para um conflito
universal, cósmico (cf. Colossenses).
3. A promessa de uma terra que é tão fundamental no AT (as
promessas patriarcais de Gênesis, cf. Gn 12.7; 13.15; 15.7, 15;
17.8) torna-se agora a terra toda. A Nova Jerusalém desce para uma
terra recriada, não o Oriente Próximo somente ou exclusivamente
(cf. Apocalipse 21-22).
4. Alguns outros exemplos dos conceitos proféticos do AT que são
expandidos são
a. o descendente de Abraão é agora o espiritualmente circuncidado
(cf. Rm 2.28, 29)
b. o povo da aliança agora inclui os gentios (cf. Os 1.10; 2.23,
citado em Rm 9.24-26; também Lv 26.12; Êx 29.45, citado em II Co
6.16-18 e Êx 19.5; Dt 14.2, citado em Tito 2.14)
c. o templo é agora Jesus (cf. Mt 26.61; 27.40; João 2.19-21) e
através dEle a igreja local (cf. I Co 3.16) ou o crente individual
(cf. I Co 6.19)
d. mesmo Israel e suas frases descritivas características do AT
agora referem-se a todo o povo de Deus (i.e., “Israel”, cf. Rm
9.6; Gl 6.16, i.e., “reino de sacerdotes”, cf. I Pe 2.5, 9,
10; Ap 1.6).
O modelo profético tem sido cumprido, expandido e é agora mais
inclusivo. Jesus e os escritores Apostólicos não apresentam o tempo
do fim da mesma maneira que os profetas do AT (cf. Martin Wyngaarden,
The Future of The Kingdom in Prophecy and Fulfillment [O Futuro do
Reino na Profecia e Realização]). Intérpretes modernos que tentam
tornar o modelo do AT literal ou normativo deturpam o Apocalipse num
livro muito judaico e forçam o significado em frases atomizadas,
ambíguas de Jesus e Paulo! Os escritores do NT não negam os
profetas do AT, mas mostram sua implicação universal final. Não há
sistema organizado, lógico para a escatologia de Jesus ou de Paulo.
O propósito deles é fundamentalmente redentivo ou pastoral.
Contudo, mesmo dentro do NT há tensão. Não há sistematização
clara dos eventos escatológicos. De muitas maneiras o Apocalipse
surpreendentemente usa alusões do AT ao descrever o fim em vez dos
ensinos de Jesus (cf. Mateus 24; Marcos 13)! Segue o gênero
literário iniciado por Ezequiel e Zacarias, mas desenvolvido durante
o período intertestamentário (literatura apocalíptica judaica).
Esta pode ter sido a maneira de João de ligar as Antiga e Nova
Aliança. Isso mostra o antigo padrão da rebelião humana e o
compromisso de Deus com a redenção! Mas deve ser observado que
embora o Apocalipse use linguagem, pessoas e eventos do AT, ele os
reinterpreta à luz da Roma do primeiro século (cf. Ap 1.7).
SEGUNDA TENSÃO (monoteísmo vs. um povo eleito)
A ênfase bíblica é num Deus pessoal, espiritual, criador-redentor
(cf. Êx 8.10; Is 44.24; 45.5-7, 14, 18, 21, 22; 46.9; Jr 10.6, 7). A
singularidade do AT em sua própria época era seu monoteísmo. Todas
as nações dos arredores eram politeístas. A unidade de Deus é o
coração da revelação do AT (cf. Dt 6.4). A criação é um
estágio para o propósito da comunhão entre Deus e o gênero
humano, feito à Sua imagem e semelhança (cf. Gn 1.26,27). Contudo,
a humanidade se rebelou, pecando contra o amor, liderança e
propósito de Deus (cf. Gênesis 3). O amor e propósito de Deus era
tão forte e certo que Ele prometeu redimir a humanidade caída (cf.
Gn 3.15)!
A tensão surge quando Deus escolhe usar um homem, uma família, uma
nação para alcançar o resto da humanidade. A eleição de Deus de
Abraão e os judeus como um reino de sacerdotes (cf. Êx 19.4-6)
causou orgulho em vez de serviço, exclusão em vez de inclusão. O
chamado de Deus de Abraão envolvia a bênção de toda humanidade
(cf. Gn 12.3). Deve ser lembrado e enfatizado que a eleição do AT
era para o serviço, não salvação. Todo o Israel nunca esteve
justo com Deus, nunca eternamente salvo baseado somente em seu
direito nato (cf. João 8.31-59; Mt 3.9), mas pela fé e obediência
pessoal (cf. Gn 15.6, citado em Romanos 4). Israel perdeu sua missão
(a igreja é agora um reino de sacerdotes, cf. 1.6; II Pe 2.5, 9),
tornou mandato em privilégio, serviço num prestígio especial. Deus
escolheu um para escolher todos!
TERCEIRA TENSÃO (alianças condicionais vs. alianças incondicionais)
Há uma tensão teológica ou paradoxo entre alianças condicionais e
incondicionais. É certamente verdadeiro que o propósito/plano
redentivo de Deus é incondicional (cf. Gn 15.12-21). Contudo, a
resposta humana ordenada é sempre condicional!
O padrão “se… então” aparece tanto no AT quanto no NT.
Deus é fiel; a humanidade é infiel. Essa tensão tem causado muita
confusão. Os intérpretes têm tido a tendência de focar no único
“chifre do dilema”, a fidelidade de Deus ou o esforço humano,
a soberania de Deus ou livre-arbítrio do humanidade. Ambos são
bíblicos e necessários.
Isso se relaciona à escatologia, às promessas do AT de Deus a
Israel. Se Deus promete, isso o estabelece! Deus está atado às Suas
promessas; Sua reputação está envolvida (cf. Ez 36.22-38). As
Alianças incondicionais e condicionais se encontram em Cristo (cf.
Isaías 53), não em Israel! A fidelidade suprema de Deus reside na
redenção de todos que se arrependerão e crerão, não em quem foi
seu pai/mãe! Cristo, não Israel, é a chave para todas as alianças
e promessas de Deus. Se há um parêntese teológico na Bíblia, não
é a Igreja, mas Israel (cf. Atos 7 e Gálatas 3).
A missão mundial de proclamação do evangelho passou para a Igreja
(cf. Mt 28.19, 20; Lucas 24.47; Atos 1.8). É ainda uma aliança
condicional! Isto não é para implicar que Deus rejeitou totalmente
os judeus (cf. Romanos 9-11). Pode haver um lugar e propósito para o
Israel crente, do tempo do fim (Zc 12.10).
QUARTA TENSÃO (modelos de literatura do Oriente Próximo vs. modelos ocidentais)
Gênero é um elemento crítico ao interpretar corretamente a Bíblia.
A Igreja se desenvolveu num cenário cultural ocidental (grego). A
literatura Oriental é muito mais figurada, metafórica e simbólica
do que os modelos literários da cultura ocidental moderna. Foca em
pessoas, encontros e eventos mais do que verdades proposicionais
sucintas. Os cristãos têm sido culpados de usar seus modelos de
história e literários para interpretar a profecia bíblica (tanto
AT quanto NT). Cada geração e entidade geográfica tem usado sua
cultura, história e literalidade para interpretar o Apocalipse. Cada
uma delas está errada! É arrogante pensar que a cultura ocidental
moderna é o foco da profecia bíblica!
O gênero em que autor original, inspirado escolhe para escrever é
um contrato literário com o leitor. O livro de Apocalipse não é
uma narrativa histórica. É uma combinação de carta (capítulos
1-3), profecia e principalmente literatura apocalíptica. É tão
errado fazer a Bíblia dizer mais do que foi pretendido pelo autor
original quanto fazê-la dizer menos do que o que ele pretendeu! A
arrogância e dogmatismo dos intérpretes são ainda mais inadequados
num livro como Apocalipse.
A Igreja nunca concordou numa interpretação adequada de Apocalipse.
Minha preocupação é ouvir e tratar com a Bíblia toda, não
alguma(s) parte(s) selecionada(s). A crença oriental da Bíblia
apresenta a verdade em pares cheios de tensão. Nossa tendência
ocidental para com a verdade proposicional não é inválida,
desequilibrada! Eu acho que possível remover pelo menos um pouco do
impasse ao interpretar Apocalipse observando seu propósito mutável
para sucessivas gerações de crentes. É óbvio para a maioria dos
intérpretes que Apocalipse deve ser interpretado à luz de sua
própria época e seu gênero. Uma abordagem histórica para
Apocalipse deve tratar com o que os primeiros leitores teriam, e
poderiam ter, compreendido. De muitas maneiras os intérpretes
modernos têm perdido o significado de muitos dos símbolos do livro.
A verdade principal inicial de Apocalipse era encorajar crentes
perseguidos. Mostrou o controle de Deus da história (como fizeram os
profetas do AT); afirmou que a história está se movendo para um
fim, juízo ou bênção marcados (como fizeram os profetas do AT).
Afirmou em termos apocalípticos judaicos do primeiro século o amor,
presença, poder e soberania de Deus!
Funciona destas mesmas maneiras teológicas para cada geração de
crentes. Descreve a luta cósmica do bem e do mal. Os detalhes do
primeiro século podem ter sido perdidos para nós, mas não as
verdades poderosas, confortantes. Quando intérpretes ocidentais,
modernos tentam forçar os detalhes de Apocalipse na história
contemporânea deles, o padrão de interpretações falsas continua!
É bastante possível que os detalhes do livro podem tornar-se
notavelmente literais novamente (como fez o AT em relação ao
nascimento, vida e morte de Cristo) para a última geração de
crentes enquanto eles enfrentam a investida de um líder anti-Deus
(cf. II Tessalonicenses 2) e a cultura. Ninguém pode conhecer essas
realizações literais do Apocalipse até que as palavras de Jesus
(cf. Mt 24; Marcos 13; e Lucas 21) e Paulo (cf. I Coríntios; I
Tessalonicenses 4-5; e II Tessalonicenses 2) também se tornem
historicamente evidentes. Suposição, especulação e dogmatismo são
todos inadequados. A literatura apocalíptica permite essa
flexibilidade. Agradeça a Deus pelas imagens e símbolos que superam
a narrativa histórica! Deus está no controle; Ele reina; Ele vem!
A maioria dos comentários modernos não entende o ponto do gênero!
Intérpretes ocidentais modernos com freqüência buscam um sistema
de teologia lógico, claro em vez de serem justos com um gênero
ambíguo, simbólico, dramático da literatura apocalíptica judaica.
Essa verdade é expressa bem por Ralph P. Martin em seu artigo
“Approaches to New Testament Exegesis” [Abordagens à Exegese
do Novo Testamento], no livro New Testament Interpretation
[Interpretação do Novo Testamento], editado por J. Howard Marshall:
“A menos que reconheçamos a qualidade dramática deste escrito
e lembremos o modo em que a linguagem está sendo usada como um
veículo para expressar verdade religiosa, erraremos intensamente em
nossa compreensão do Apocalipse, e erroneamente tentaremos
interpretar suas visões como se ele fosse um livro de prosa literal
e preocupado em descrever eventos de história empírica e datável.
Tentar o último curso é topar com toda maneira de problemas de
interpretação. Mais seriamente isso leva a uma distorção do
significado essencial de apocalíptico e assim perde o grande valor
desta parte do Novo Testamento como uma afirmação dramática em
linguagem mito-poética da soberania de Deus em Cristo e o paradoxo
de seu domínio que mistura poder e amor (cf. 5.5, 6; o Leão é o
Cordeiro)” (p. 235).
W. Randolph Tate em seu livro Biblical Interpretations
[Interpretações Bíblicas] disse:
“Nenhum outro gênero da Bíblia tem sido tão ardentemente lido
com resultados tão deprimentes como apocalipse, especialmente os
livros de Daniel e Apocalipse. Este gênero tinha sofrido de uma
história desastrosa de interpretação errônea devido a um
mal-entendido de suas formas, estrutura e propósito literários. Por
causa de sua afirmação exata de revelar o que está em breve para
acontecer, o apocalipse tem sido visto como um mapa de estrada para e
um anteprojeto do futuro. O defeito trágico nessa visão é a
suposição de que a estrutura de referência do livro é a era
contemporânea do leitor em vez da do autor. Essa abordagem
equivocada para o apocalipse (particularmente Apocalipse) trata a
obra como se fosse um criptograma pelo qual eventos contemporâneos
podem ser usados para interpretar o símbolo do texto… Primeiro, o
intérprete deve reconhecer que o apocalíptico comunica suas
mensagens através do simbolismo. Interpretar um símbolo
literalmente quando é metafórico é simplesmente interpretar mal. A
questão não é se os eventos no apocalíptico são históricos. Os
eventos podem ser históricos; eles podem ter realmente acontecidos,
ou poderiam acontecer, mas o autor apresenta eventos e comunica
significado através de imagens e arquétipos” (p. 137).
Do Dictionary of Biblical Imagery [Dicionário de Imagens Bíblicas],
editado por Ryken, Wilhost e Longman III:
“Os leitores de hoje são muitas vezes desorientados e
frustrados por esse gênero. As imagens inesperadas e experiências
fora-deste-mundo parecem bizarras e fora de sincronização com a
maior parte da Escritura. Levar esta literatura ao pé da letra deixa
muitos leitores lutando para determinar ‘o que acontecerá quando’,
assim perdendo a intenção da mensagem apocalíptica” (p.35).
QUINTA TENSÃO (o Reino de Deus como presente contudo futuro)
O reino de Deus é presente, contudo futuro. Esse paradoxo teológico
se torna focado no ponto de escatologia. Se alguém espera um
cumprimento literal de todas as profecias do AT para Israel então o
Reino se torna principalmente uma restauração de Israel para uma
localidade geográfica e uma preeminência teológica! Isso
necessitaria que a Igreja seja secretamente arrebatada no capítulo 5
e os capítulos restantes se relacionem com Israel.
Contudo, se o foco é no reino sendo iniciado pelo Messias prometido
do AT, então está presente com a primeira vinda de Cristo, e então
o foco se torna a encarnação, vida, ensinos, morte e ressurreição
de Cristo. A ênfase teológica está na salvação atual. O reino
veio, o AT é cumprido na oferta de Cristo de salvação para todos,
não Seu reino milenar sobre alguns!
É certamente verdadeiro que a Bíblia fala de ambas as vindas de
Cristo, mas onde a ênfase deve ser colocada? Parece para mim que a
maioria das profecias do AT foca na primeira vinda, o estabelecimento
do reino messiânico (cf. Daniel 2). De muitas maneiras isso é
análogo ao reino eterno de Deus (cf. Daniel 7). No AT o foco está
no reino eterno de Deus, contudo o mecanismo para a manifestação
desse reino é o ministério do Messias (cf. I Co 15.26, 27). Não é
uma questão do que é verdadeiro; ambos são verdadeiros, mas onde
está a ênfase? Deve ser dito que alguns intérpretes se tornam tão
focados no reino milenar do Messias (cf. Apocalipse 20) que eles têm
perdido o foco bíblico no reino eterno do Pai. O reinado de Cristo é
um evento preliminar. Como as duas vindas de Cristo não eram óbvias
no AT, também não é um reinado temporal do Messias!
A chave para a pregação e ensino de Jesus é o reino de Deus. É
tanto presente (na salvação e culto) quanto futuro (na difusão e
poder). Apocalipse, se ele foca num reinado messiânico milenar (cf.
Apocalipse 20), é preliminar, não final (cf. Apocalipse 21-22). Não
é óbvio do AT que um reinado temporal seja necessário; na verdade,
o reinado messiânico de Daniel 7 é eterno, não milenar.
SEXTA TENSÃO (retorno iminente de Cristo vs. a Parousia demorada)
A maioria dos crentes tem sido ensinada que Cristo está vindo em
breve, de repente, e inesperadamente (Mt 10.23; 24.27, 34, 44; Marcos
9.1; 13.30). Mas cada geração de crentes cheia de expectativa até
agora tem estado errada! A brevidade (imediação) do retorno de
Jesus é uma esperança prometida poderosa de cada geração, mas uma
realidade para somente uma (e aquela perseguida). Os crentes devem
viver como se Ele estivesse voltando amanhã, mas planejar e executar
a Grande Comissão (cf. Mt 28.19, 20) como se Ele tardasse.
Algumas passagens nos Evangelhos (cf. Marcos 13.10; Lucas 17.2; 18.8)
e I e II Tessalonicenses são baseadas numa Segunda Vinda demorada
(Parousia). Há alguns eventos históricos que devem acontecer
primeiro:
1. evangelização mundial (cf. Mt 24.15; Marcos 13.10)
2. revelação do “homem do pecado” (cf. Mt 24.15; II
Tessalonicenses 2; Apocalipse 13)
3. A grande perseguição (cf. Mt 24.21, 24; Apocalipse 13)
Há uma ambigüidade intencional (cf. Mt 24.42-51; Marcos 13.32-36)!
Viva cada dia como se fosse seu último mas planeje e se prepare para
o ministério futuro!
CONSISTÊNCIA E EQUILÍBRIO
Deve ser dito que diferentes escolas de interpretação escatológica
moderna todas contêm meias verdades. Elas explicam e interpretam bem
alguns textos. O problema reside na consistência e equilíbrio. Com
freqüência há um conjunto de pressuposições que usam o texto
bíblico para encher um esqueleto teológico pré-estabelecido. A
Bíblia não revela uma escatologia lógica, cronológica,
sistemática. É como um álbum de família. As fotos são
verdadeiras, mas nem sempre na ordem, no contexto, numa seqüência
lógica. Algumas das fotos caíram do álbum e gerações mais
recentes de membros da família não sabem exatamente como colocá-las
de volta. A chave para interpretação apropriada do Apocalipse é a
intenção do autor original como revelada em sua escolha do gênero
literário. A maioria dos intérpretes tenta carregar suas
ferramentas e procedimentos exegéticos dos outros gêneros do NT
para suas interpretações do Apocalipse. Eles focam no AT em vez de
permitir que os ensinos de Jesus e Paulo estabeleçam a estrutura
teológica e deixe Apocalipse atuar como ilustrativo.
Eu devo admitir que eu abordo este comentário com um pouco de medo e
temor, não por causa de Ap 22.18,1 9, mas por causa do nível de
controvérsia que a interpretação deste livro tem causado e
continua a causar entre o povo de Deus. Eu amo a revelação de Deus.
Ela é verdadeira quando todos os homens são mentirosos (cf. Rm
3.4)! Por favor, use este comentário como uma tentativa a ser
pensada provocadora e não definitiva, como um guia e não um mapa de
estrada, como um “e se”, não “assim diz o Senhor”.
Tenho enfrentado minhas próprias impropriedades, preconceitos e
pauta teológica. Tenho também visto aquelas dos outros intérpretes.
Quase parece que as pessoas encontram em Apocalipse o que elas
esperam achar. O gênero empresta-se ao abuso! Contudo, está na
Bíblia para um propósito. Sua localização com a “palavra”
final não é por acidente. Tem uma mensagem de Deus para Seus filhos
de cada e todas as gerações. Deus quer que nós entendamos!
Juntemos as mãos, não formemos campos; afirmemos o que é claro e
central, não tudo que pode ser, pôde ser, poderia ser verdadeiro.
Deus nos ajude a todos!
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